Não se fala de outra coisa: Felca vai apresentar um quadro no Fantástico e a internet entrou no modo sirene. Hater saiu da toca, “especialista” de plantão brotou em todo feed, e virou tendência opinar sobre a vida profissional de um cara de 26 anos que, goste você ou não, aprendeu a furar bolhas.
Eu, como comunicador que transita entre TV, internet e palco, quero propor um respiro. Em vez de treta, contexto. Em vez de espuma, conteúdo.
TV, internet e rádio: três linguagens, três chaves
A primeira coisa que a gente precisa entender é linguagem.
Rádio é uma cadência. TV é performance com timing e régua de marca. Internet é espontaneidade — e nem por isso é bagunça.
É por isso que tem apresentador que voa na TV e “empaca” na rede, e creator gigante que, quando vai ao ao vivo da TV, sente o freio do formato. Não é incapacidade. É ajuste fino. Felca está nesse ajuste — e tem estofo para aprender rápido.

“Ah, mas ele é do humor!”
Sim. E o humor é ponte quando o assunto é duro. Desde sempre programas de auditório, talk shows e quadros de crítica social usam a comédia como chave de acesso. Ela aproxima, desarma, e depois entrega a mensagem.
Felca já mostrou que sabe usar essa chave para falar de saúde mental, responsabilidade na comunicação e comportamento digital. A TV só aumenta o alcance desse recado.
Branding, símbolos e a tal “androgênia”: menos paranoia, mais leitura
O look Monalisa no baile de Halloween? A estética andrógina aqui e ali? Chamam de “sinal oculto”. Eu chamo de brand.
Símbolos existem desde sempre — da liturgia ao marketing. Arquétipos comunicam antes da palavra. Quem trabalha imagem conhece a linguagem do simbólico. Isso não é pacto com nada; é repertório.

No fim do dia, é sobre posicionamento: qual mensagem minha imagem dispara no público que eu quero alcançar? Felca está organizando a própria prateleira no varejo da atenção.
Dinheiro, trabalho e boleto: o trio que ninguém quer ver, mas todo mundo tem
“Foi pra Globo por dinheiro.”
E por que você trabalha? Propósito sem sustento vira exaustão.
Ganhar para comunicar não deslegitima a mensagem — viabiliza escala e consistência. E a Globo, por mérito histórico de produção e distribuição, é uma das maiores vitrines do Brasil. Recusar vitrine por birra é luxo que quase ninguém tem.

“Mas Globo manipula…” – A plataforma muda, o senso crítico fica
TV tem recorte editorial? Tem. A internet também. O seu algoritmo é um editor invisível. Em qualquer plataforma, quem comunica precisa de critérios; e quem consome, de senso crítico.
Felca na TV não cancela o Felca da internet. Soma camadas. Amplia público. Fura outras bolhas.
O que muda na prática?
Mais alcance para debates de comportamento e saúde mental.
Mais responsabilidade de linguagem  – TV cobra régua e timing.
Mais porta aberta para quem só consome TV descobrir o conteúdo dele nas redes.
Mais incômodo para quem confunde o sucesso do outro com ameaça pessoal. (Hater não odeia você; odeia o espelho.)
O “caso Felca” diz mais sobre a gente do que sobre ele
A pressa em carimbar rótulos revela nossas travas: preconceito com estética, ranço automático com TV, alergia a quem muda de fase.
Sabe o que é mais maduro? Crítica construtiva: cobrar qualidade, coerência e responsabilidade. O resto é ruído.

Eu vejo movimento inteligente. Quem transformou um vídeo em agenda pública tem direito de levar essa conversa para outro megafone.
Se der certo, ganha o público. Se escorregar, corrige rota — a internet cobra na hora. Mas impedir o passo em nome do ranço é pequeno demais para o tamanho do debate.


 
								 
								

