Uma celebração de liberdade, ancestralidade e força espiritual
Em um mundo onde tantos ainda lutam para preservar suas raízes, sua voz e seus rituais, o Dia Nacional do Cigano, celebrado em 24 de maio, surge como um lembrete vibrante da importância de honrar a cultura, os caminhos e a força desse povo nômade, ancestral e profundamente espiritualizado.
A data foi oficializada no Brasil em 2006 pelo Ministério da Cultura, reconhecendo a relevância dos ciganos na formação da diversidade cultural do nosso país. Mas mais do que um marco no calendário, esse dia representa algo que pulsa dentro de muitos — inclusive de mim.

Nem todos sabem, mas eu sou descendente de cigano. E trago isso comigo com orgulho e respeito. Minha própria união amorosa foi celebrada sob a luz dos ritos ciganos: com dança, fogo, laços, promessas feitas ao vento e à terra. Foi um casamento diferente — e ao mesmo tempo tão verdadeiro — como só os rituais ancestrais conseguem ser. Ali, eu entendi com profundidade o que é pertencimento, honra e espiritualidade viva.
A cultura cigana é marcada por um senso de liberdade que não se opõe à responsabilidade, mas sim à opressão. Carregam uma sabedoria passada por gerações, onde o respeito à natureza, à intuição e à espiritualidade são pilares centrais.

Os ciganos não são um povo de um único lugar, mas de muitos. E talvez por isso tenham sido tantas vezes perseguidos, incompreendidos, marginalizados. Mas mesmo diante da exclusão, mantiveram sua arte, sua música, seus oráculos e a conexão profunda com o invisível.
O baralho cigano (Lenormand), as danças com saias coloridas, os olhos que enxergam além da matéria, os laços familiares fortes — tudo isso é parte de um mundo simbólico que inspira e desperta algo ancestral em todos nós, mesmo em quem não se reconhece cigano por origem, mas sim por alma.

No Brasil, o Dia Nacional do Cigano também coincide com a celebração de Santa Sara Kali, a padroeira dos povos ciganos. Ela representa proteção, fé e esperança. Dizem que Sara era uma mulher de pele escura, que acolheu os exilados e os rejeitados. É vista como santa, mãe espiritual, guia.
Muitos devotos fazem nesse dia seus rituais: acendem velas azuis e brancas, oferecem flores, dançam em roda e entoam orações pedindo liberdade, proteção e cura. Não é apenas folclore, é fé viva que essa data nos convida a refletir?
O Dia do Cigano não é só sobre cultura. É sobre pertencimento, resistência e a força de manter acesa uma chama interior que muitas vezes o mundo tentou apagar. É sobre dançar mesmo quando o chão parece instável. É sobre carregar no peito o que é sagrado — mesmo quando invisível aos olhos dos outros.
Como descendente, me sinto no dever e na honra de dizer: a alma cigana não se explica, se sente. Ela está no vento, nos olhos atentos, na intuição afiada e no coração que não se prende.
E que neste 24 de maio, possamos não só homenagear essa história, mas também lembrar que todos temos algo de cigano dentro de nós — essa voz que nos chama a viver com mais verdade, coragem e presença com carinho e ancestralidade.